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Voltar para o site do Centro de Documentação e Memória Igreja do ICEFLU - Patrono Sebastião Mota de Melo

Sobre Hinos e Hinários  - About Hymns and Hymnals

 
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Na doutrina do Santo Daime, os hinários compõem o principal acervo de ensinamentos e o núcleo do corpo doutrinário da nossa Tradição. O fato dos ensinos espirituais serem transmitidos desta forma eminentemente musical remonta aos seus primórdios. Para ser mais exato, desde  momento que o Mestre Irineu recebeu, naquela noite de lua cheia, das mãos da Rainha da Floresta, a letra e a música do seu primeiro hino "Deus te salve ó Lua branca.
 

 
Quando penetramos dentro da força do Santo Daime pelos caminhos que os hinos nos levam, temos uma vivência interior profunda que se une a este espetáculo de rara beleza dos Hinários. É como se os hinos se transfigurassem e se tornassem veículos de um conhecimento de outra forma vedado à nossa consciência ordinária. Mais ainda: eles nos alertam e mobilizam para a percepção do Reino que existe dentro de nós, deixando ainda um rastro de ouro e prata fina, um sentimento de conforto espiritual e prazer estético. Mesmo com suas rimas pobres e sintaxe às vezes imperfeita, mesmo com suas e melodias na maior das vezes de grande simplicidade, como eles se prestam a induzirmos num verdadeiro êxtase! Seguindo suas palavras e as visões que a acompanham, podemos acessar os tesouros da grande consciência cósmica e a memória da sabedoria akhásica1 .
 
Este mecanismo estruturante do nosso corpo doutrinário também instaura uma verdadeira revolução democrática dentro da Doutrina. Pois a principio (pelo menos na vertente do Santo Daime), “nesta igualdade todos tem os mesmos direitos”, como diz o decreto do Mestre Irineu. O recebimento dos hinos está aberto a todos mediante o dom de cada um. E ao contrário do que poderíamos pensar, isto em nenhum momento cria um embaraço, descontinuidade ou contradição para a consolidação e evolução do corpo doutrinário. Pelo contrário, o fortalece.
 
Isto por que, sendo um mecanismo espiritual por excelência, é muito difícil afrontar com a verdade e a força dos ensinamentos que já estão codificados a partir das experiências dos mestres fundadores e que os hinários mais antigos já trouxeram. Podem ocorrer pequenas variáveis e ajustes e até mesmo atualizações, novos enfoques e revelações. Mas dificilmente ocorrem oposições, fraturas e colisões, ou palavras que neguem as verdades essenciais das revelações dos Hinários principais, assim como os princípios espirituais e éticos subjacentes.
 
Quando acontece alguma coisa, por mínima que seja neste sentido, ainda assim, para quem canaliza ou recebe um hino, não basta simplesmente recebe-lo. Principalmente se o canal de recepção não estiver aberto e bem conectado com a fonte espiritual e a experiência mística que o deu origem. Hinos não são compostos mas também nem todos são inteiramente lampejos mediúnicos. Dependendo do caso, eles podem ser recebidos de diversas maneiras: dentro da vivência da miração; no rescaldo da Força e por intuição em estado meditativo.
 
Além disto eles precisam ser provados por aqueles que o recebem. A mensagem de um hino, a força de um hinário se baseia principalmente no testemunho que cada aparelho receptor e participante dá na sua própria vida dos hinos que recebe e ou acolhe. E se esta relação não existe ou não é coerente, a sua aparente beleza se esvai dentro da Força e eles não são apreciados, confirmados e instruídos. Ou seja: não são assumidos pela irmandade. 
 
Um outro aspecto que também contribui para a consolidação da linha doutrinária é eminentemente espiritual e está na própria segurança do aparelho receptor, sua confiança e certeza de que trata-se de uma mensagem canalizada e não um mero capricho, repetição ou eco de um outro hino. Podemos até mesmo relembrar a história do Mestre Irineu hesitando em solfejar seu primeiro hino e o encorajamento da Rainha neste sentido, como sendo uma bela metáfora para explicar isto. Diz o hino do padrinho Alfredo: "É preciso confiar em si mesmo para ser pela doutrina resguardado”. E mais ainda para seu porta voz. Se houver dúvida na verdade da conexão obtida, não é ainda um hino. Mas se a vivência é clara para quem recebe e depois para quem compartilha o hino, ele termina se firmando. Por isto a voz do verdadeiro hino é considerada por nós como a linguagem escolhida pelo pano espiritual para transmitir seus ensinamentos.
 
É importante frisar que o mestre, naquele remoto dia lá pelos idos de 1912, não apenas recebeu o que seria o primeiro hino da doutrina em honra à sua padroeira mas também a forma de como a doutrina se desenvolveria e seria transmitida até os dias de  hoje.
 
O sistema funciona desta maneira: os aparelhos firmados e afinados recebem as melodias e as mensagens que por sua vez serão reconhecidas e assumidas por toda a irmandade. A força e a verdade da miração e da passagem que deu origem àqueles hinos tornam a experiência singular de um aparelho receptor em uma obra coletiva. No contexto do ritual, o Hinário é um balé cadenciado e coreografado, como uma forma de arte que une música e dança, abertura de consciência, firmeza, resistência e tudo que precisamos para atravessar toda a noite, alçar nossa consciência até as alturas espirituais. O cume da perfeição exigido para entrar no celestial
 
Além disto tudo, o reconhecimento do valor da mensagem do hino se traduz pelo interesse no estudo e na prática do mesmo, que em certo sentido é assumido como nosso e de todos. Como dizia o padrinho Mário Rogério, que nunca tinha recebido hinos (apenas ofertados): "Todos os hinos são meus, por que eu zelo por todos eles!” Ele dizia também que dentro da miração já tinha visitado a Casa dos Hinos no Astral. Nesta casa, os hinos estavam guardados em grandes estantes cheias de gaveta e cada um tinha uma luzinha que brilhava com cores diferentes. Os guardiões circulavam pela casa. Tinha um setor dos hinos já recebidos e de outros ainda por receber.
 
1Memoria akhásica, Segundo a teosofia é o registro no éter de tudo que ocorre no universo