Mestre Irineu e Companheiros - Evolução
Existe uma linha de evolução nos hinários, assim como no ritual de um modo geral. Os hinários foram se impondo como o trabalho principal do corpo doutrinário. Nos tempos do Mestre lá pelos idos do final dos anos cinquenta foi criado um dispositivo envolvendo um grupo de músicos, cantoras, um corpo de baile com pelotões e filas de fardados, com maracás sincronizados dando o ritmo, etc.
Algumas pessoas tiveram um papel muito importante nesta questão da fidelidade dos hinários, como foi o caso da Dona Percília, que era quem o Mestre primeiro chamava para escutar os hinos novos. Como professora da comunidade e portanto mais conhecedora da língua, ela era quem "aproximava” o hinário do Mestre e demais seguidores para a norma culta, tornando mais compreensível o seu sentido. O padrinho Sebastião também apresentava seus hinos ao Mestre Irineu enquanto ele era vivo. Por isto teve alguns dos seus hinos ‘corrigidos' por Dona Percília.
A verdade é que, depois da passagem do Mestre e dos seus companheiros, das divisões que ocorreram, da falta de gravações originais destes primeiros tempos, só restou a memória da Dona Percília e de algumas poucas pessoas com mais capacidade e memória musical para guardar este precioso acervo. Como é normal nestes casos, ocorreram algumas pequenas variações na transmissão oral de um para outro, na medida em que, além do grupo que permaneceu em torno da viúva Peregrina Gomes Serra, muito das outras fontes originais se transferiram para grupos dissidentes ou periféricos, depois da passagem do Mestre Irineu.
Estas variações ocorrem de igreja para igreja em relação aos hinários do Mestre e companheiros na forma de cantar algumas notas, nas repetições e principalmente de variação na ênfases das sílabas tônicas. Também nem sempre coincidem as versões dos atuais guardiões com outros seguidores que também dizem conhece-los.
A linha doutrinaria do Padrinho Sebastião (Santo Daime/ICEFLU) não pretendeu fazer nenhuma mudança neste campo dos hinários. Certamente podem e devem ter havido algumas destas variações citadas em relação ao que poderíamos considerar a versão mais antiga e original. Em muitos casos, mantivemos a versão da Dona Percília, que chegou a seguir o padrinho Sebastião e frequentar a igreja da Cinco Mil nos seus primeiros anos, juntamente com outros egressos do Alto Santo.
Recentemente fizemos alguns estudos e coletamos as versões antigas que se encontravam ainda disponíveis. Chegamos mesmo a fazer uma gravação com os guardiões dos hinários dos companheiros. Constatamos algumas diferenças mas consideramos que elas não eram relevantes e que a nossa forma de cantar já tinha se espraiado, tornando difícil uma mudança brusca.
Há alguns anos, o Conselho Doutrinário se reuniu para avaliar a questão e concluiu que era impossível hoje resgatar uma versão totalmente pura e original dos hinário do Mestre e dos Finados (Companheiros). Na verdade todas as versões existentes refletem algo muito próximo do que ela deve ter sido. Também concluiu que as diferenças não desabonavam nenhuma das versões existentes. Todas preservavam o essencial dos Hinários e sua mensagem.
Foi neste sentido que concluímos em manter, por enquanto, a nossa forma de tocar e cantar, até o término deste longo e minucioso estudo comparado das versões. Temos assimilado algumas correções que pareceram lógicas e mantendo basicamente a versão a que chegamos pelas nossas próprias fontes, como os próprios Alfredo, Waldete e outros padrinhos, madrinhas e membros mais antigos que se familiarizaram com os hinários da base desde a época do Alto Santo.
Alex Polari de Alverga
Editor chefe do site www.santodaime.org